APAC masculina de Itaúna/MG
28/04/1991
A APAC de Itaúna surgiu em 1984, quando a APAC mãe de São José dos Campos já tinha doze anos de esforços e progresso. Valdeci Antônio Ferreira, foi convidado por um grupo de jovens para visitar a pequena cadeia pública da cidade de Itaúna/MG.
Durante a visita, ele ficou muito angustiado com a situação de degradação e abandono a que essas pessoas estavam submetidas
Durante as visitas semanais, Valdeci teve a oportunidade de conhecer outras pessoas que faziam diferentes trabalhos pastorais. Depois de alguns meses, eles se reuniram e tomaram a decisão de criar a Pastoral Carcerária naquela cidade.
Três anos depois, Valdeci conheceu o livro “Meu Cristo chorou no cárcere” de autoria do Dr. Mário Ottoboni, idealizador do Método APAC. Ao concluir a leitura da obra, Valdeci imediatamente telefonou para o Dr. Mário Ottoboni, dizendo que havia gostado muito do livro, mas não conseguia acreditar na possibilidade de existir uma prisão sem armas e sem agentes prisionais. A resposta não poderia ter sido melhor: um convite para conhecer e vivenciar a experiência pessoalmente.
Na APAC de São José dos Campos/SP, Valdeci ficou surpreso ao ver um espaço totalmente limpo e organizado, com uma refeição deliciosa, onde não era possível saber quem eram as pessoas privadas de liberdade e quem eram os voluntários. Ele não conseguia ver ninguém que se parecesse com os presos a que estava acostumado a encontrar nas prisões: pessoas tristes, desarrumadas, sem esperança e fé. Tudo isso o fez acreditar que era sim possível replicar a experiência e levá-la para Itaúna.
Ao voltar da APAC de São José dos Campos/SP, Valdeci Ferreira teve a certeza de que iriam tentar implementar a APAC na cidade de Itaúna, de forma igual ou similar ao encontrado em São José dos Campos. No entanto, encontraram muita resistência por parte da sociedade.
Inicialmente, obter o apoio das autoridades foi um trabalho difícil e laborioso. O Juiz de Direito, Dr. Paulo Antônio de Carvalho, na ocasião responsável pela execução penal na Comarca, não acreditava que essa prisão APAC fosse real.
A pastoral carcerária então se encarregou de organizar a vinda do Dr. Mário Ottoboni, para a realização de uma audiência pública na cidade de Itaúna, convocando toda a sociedade itaunense para a apresentação do Método APAC. Compareceram na audiência em média 17 pessoas, dentre eles os dois juízes da época Dr. Paulo Antônio de Carvalho e Dr. Ivo Nogueira que embora não acreditando totalmente na proposta da APAC começaram a apoiar.
Assim foi fundada a APAC juridicamente organizada, o que facilitou o diálogo com as autoridades e conseguiu se firmar como uma organização da sociedade civil.
Relembra Valdeci Ferreira que, um dos primeiros movimentos apoiados pelo poder judiciário foi a autorização concedida pelo juiz para a ida de dois presos da cadeia para participarem do 2º Congresso Nacional das APACs, em São José dos Campos, que viajaram sem escolta e sem algemas, além da liberação de quase 50 presos para participarem da 1ª Jornada de Libertação com Cristo, com duração de quatro dias, realizada em um Centro de convenções da cidade chamado de “Grêmio do Santanense”, não apresentando nenhum problema, com a volta de todos os presos para a cadeia.
Aos 08 dias do mês de janeiro de 1986 foi realizada a primeira reunião executiva da APAC, a fim de formar a diretoria executiva, onde foi eleito como presidente pelo Conselho deliberativo Valdeci Antônio Ferreira. Ainda no mesmo ano foi proposta pelo então presidente a implementação da “escolinha” nos moldes da já estruturada em São José dos Campos, aprofundando a fé, e o conhecimento através do estudo dos livros do Dr. Mário Ottoboni, do Código Penal e Processo Penal -Noções gerais.
Mais tarde, diferentes reformas foram feitas na cadeia. O grupo inicialmente pensou em alterá-la em um Centro de Reintegração Social – CRS, seguindo os mesmos parâmetros encontrados na APAC de São José dos Campos: uma cadeia pública transformada em uma APAC. No entanto, observou-se que a experiência de Itaúna era diferente e que isso nunca seria possível.
Com a dedicação do grupo, foi recebida a doação de um terreno por parte da prefeitura municipal, e, logo, foram realizadas campanhas de arrecadação de fundos na comunidade. Com o dinheiro levantado, iniciou-se a construção do CRS com o apoio de arquitetos voluntários que realizaram o projeto arquitetônico, para um espaço próprio a ser administrado pelos recuperandos com apoio dos voluntários.
Após muitos anos de trabalho, a equipe concluiu a primeira etapa do CRS: três celas, uma capela e um pátio inaugurado em 27 de abril de 1991. Inicialmente o Poder Judiciário permitiu à APAC cuidar dos recuperandos do regime aberto, isto é, daqueles que trabalhavam externamente durante o dia e voltavam no início da noite para dormir.
Apesar dos inúmeros desafios, o grupo permaneceu firme na construção dos outros regimes e espaços, a fim de alcançar um completo Centro de Reintegração Social. Com muita fé e esperança, eles sabiam que uma hora esse sonho se tornaria realidade.
Alguns anos depois, em 26 de outubro de 1995 quando o regime semiaberto da APAC estava quase pronto, houve uma grande rebelião na cadeia pública da cidade, algo que era muito comum na época devido às condições precárias dos estabelecimentos prisionais. Os presos destruíram tudo. Não havendo condições de mantê-los ali, eles foram transferidos para cadeias já superlotadas nas cidades vizinhas pelo período de um mês.
Após esse período, ainda sem conseguir reformar a cadeia de Itaúna, o juiz perguntou à APAC se eles concordariam em receber provisoriamente os presos rebelados. Aceitado o desafio, o juiz transferiu para a APAC, de uma só vez, cerca de 50 presos dos regimes fechado e semiaberto. Além disso, a APAC permaneceu com os recuperandos do regime aberto, os quais já eram acompanhados pela associação havia mais de dois anos.
Devido à falta de segurança do prédio para receber todos, a experiência foi muito difícil, mas também positiva, pois foi a semente, colhida lá na APAC de São José dos Campos, que contribuiu para o crescimento em todo o estado de Minas Gerais. Naquele momento, viu-se que sim, era possível uma prisão sem armas, administrada pelos próprios recuperandos e voluntários.
Desde o início dessa experiência, o juiz, consciente da realidade prisional na cidade, havia convocado toda a sociedade de Itaúna e estabelecido o programa SOS Cidadania, com o objetivo de construir uma nova prisão (que permaneceria sob a tutela do estado, por meio da polícia). No entanto, no dia de sua inauguração, o juiz entregou as chaves ao grupo da APAC Itaúna e lhe deu o nome de Centro de Reintegração Social “Franz de Castro Holzwarth”. Essa decisão se baseou nos excelentes resultados obtidos no outro prédio improvisado da APAC, administrado prudentemente entre voluntários e recuperandos.
Alguns dias após a inauguração, como medida de retaliação do Poder Público, o governo suspendeu totalmente o fornecimento de alimentos aos recuperandos da APAC. Por dois anos, a comunidade local teve que se unir e envidar esforços para fornecer apoio material e alimentação aos recuperandos, até que, após muitas dificuldades, o primeiro convênio de manutenção foi firmado entre o governo e a APAC de Itaúna.
A parceria realizada com o estado era para tão somente a preparação da alimentação, mas depois de um ano o estado começou a enviar mais recursos, possibilitando a contratação de funcionários, pagamento de energia, água e outras despesas.
A princípio, no CRS recém-construído, assim como nas prisões comuns, havia apenas celas e um pátio para banho de sol. Porém, gradualmente, com o apoio da comunidade e o esforço dos voluntários, foram construídos os demais setores, como: refeitório, oficinais de trabalho, salas de aula, capela, auditório, padaria, cozinha, setor administrativo, entre outros. Os recuperandos do regime fechado deram entrada no ano de 1996.
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Sistema Carcerário ocorrida entre os anos de 1997 e 1998 concluiu que a única experiência positiva em Minas Gerais era a APAC de Itaúna, fato este responsável por destacar o trabalho dessa APAC.
Seis anos após a inauguração do CRS, o primeiro imóvel improvisado, foi reformado e ampliado para ser a APAC feminina de Itaúna. A prefeitura realizou a doação de um lote no bairro Parque Jardim, onde foi construído o novo CRS da APAC, em funcionamento até os dias atuais.
A APAC conta a mais tempo com uma marcenaria toda equipada onde os recuperandos produzem móveis para escritório, lojas, armários embutidos, entre outros, uma padaria que abastece as escolas da rede pública, prefeitura municipal e a sociedade itaunense e uma fábrica de blocos, onde são comercializados para pessoas físicas e jurídicas, inclusive adquiridos pela prefeitura municipal os blocos produzidos pelos recuperandos.
Marcenaria da APAC masculina de Itaúna/MG
Padaria da APAC masculina de Itaúna/MG
Fábrica de blocos da APAC masculina de Itaúna/MG
Ainda há as oficinas da horta e do horto. A horta é para consumo próprio dos recuperandos, além de serem comercializados para a sociedade. Já o horto conta com mudas para plantio, tanto frutíferas como ornamentais.
Horta da APAC masculina de Itaúna/MG
No dia 14 de fevereiro de 2022 foi inaugurada a fábrica de hóstias na APAC masculina de Itaúna/MG, fruto do projeto “Il senso del Pane” uma parceria da FBAC com a fundação Casa Dello Spirito e Delle Arti, objetivando a produção e distribuição das hóstias de forma gratuita para as Paróquias de Itaúna e região.
Inauguração da fábrica de hóstias.
A APAC masculina de Itaúna é a segunda a ser criada no Brasil e a primeira no estado de Minas Gerais. Recebe diariamente delegações de todos os estados brasileiros e países que buscam nutrir-se da metodologia a fim de espargir sementes em suas cidades.
Dependências da APAC de Itaúna/MG