APAC de Lagoa da Prata/MG

06/07/2008

Fachada da APAC de Lagoa da Prata/MG.

A primeira tentativa de implantação de uma Associação de Proteção e Assistência aos Condenados – APAC em Lagoa da Prata deu-se em 1998, quando o membro da Pastoral Carcerária, José Osvaldo Rocha Lobato (presidente da APAC de Lagoa da Prata de 2006 a 2008) e sua esposa souberam da metodologia sendo aplicada na APAC-mãe de São José dos Campos, em São Paulo, por meio de um livro de Mário Ottoboni:

No começo, trabalhei na Pastoral Carcerária com algumas dificuldades, mas eu e minha esposa Jane sentíamos que aquilo não era para nós, que nosso objetivo era recuperar vidas para a sociedade. Em um certo dia, depois de anos de trabalhos, sentíamos que tinha que haver uma mudança, foi quando vi um livro do Dr. Mário Ottoboni em que ele falava de como recuperava vidas em São José dos Campos/SP, falando sobre APAC e fiquei muito empolgado. Comentei com os amigos da pastoral carcerária e em 1998 fomos em Itaúna onde já existia APAC, fomos recebidos de uma forma espetacular e fiquei encantado com o trabalho deles. Comunicamos ao juiz, fizemos ofícios, mas na época não foi possível.

Em dezembro de 2003, a Cadeia Pública de Lagoa da Prata foi destruída, após um motim de presos, que reivindicavam condições dignas para o cumprimento da pena. Como resultado, um preso foi baleado e outros tantos foram transferidos para presídios da região.

Cadeia pública de Lagoa da Prata/ MG destruída em rebelião de dezembro/2003.

Então, logo em janeiro de 2004, com a aproximação da comunidade, especialmente dirigida pela Pastoral Carcerária, foram iniciados trabalhos religiosos direcionados às pessoas privadas de liberdade, proporcionando a restauração da cadeia pública e atendendo às reivindicações e anseios da população carcerária.

Organização de movimentos religiosos e de apoio às instituições públicas na administração do presídio em janeiro/2004.

Ainda em novembro de 2004, uma Audiência Pública realizada no fórum da comarca de Lagoa da Prata e presidida pelo Desembargador Joaquim Alves de Andrade, trouxe a conhecimento popular o Método APAC, convocando a todos para sua implementação.

Audiência pública em novembro/2004, presidida pelo Desembargador Joaquim Alves de Andrade, no Fórum da comarca de Lagoa da Prata/MG.

Para José Osvaldo, além da péssima situação carcerária da cidade, a chegada de um novo juiz na Comarca fez com que dessa vez a proposta da APAC virasse realidade:

Com a chegada de um novo juiz aqui em Lagoa da Prata, o Dr. Luiz Carlos nos chamou e começou a fazer parte da pastoral carcerária junto conosco, foi onde comecei a jogar essa ideia da APAC na cabeça dele. Um dia, fiz uma reunião com ele particular, expliquei pra ele direitinho como funcionava a APAC, com recuperando cuidando de recuperando, falei pra ele que tinha uma pessoa que podia explicar ele direitinho sobre as APACs, um Desembargador de justiça chamado Joaquim Alves. Marcamos uma data fizemos uma palestra, todos ficaram encantados, inclusive o Dr. Luiz Carlos.

Guiados pelo então juiz da execução penal, Luiz Carlos Rezende e Santos, lideranças de bairros, autoridades municipais e membros da Pastoral Carcerária visitam, em julho de 2005, a APAC de Itaúna/MG, modelo de aplicação do Método no estado de Minas Gerais. Ao retornarem convictos de que o Método APAC deveria ser implementado no município de Lagoa da Prata como resposta aos problemas carcerários enfrentados, o trabalho começou efetivamente.

Comitiva de Lagoa da Prata/MG visita o Centro de Reintegração Social da APAC de Itaúna/MG em julho/2005.

O juiz Luiz Carlos foi, de fato, uma das grandes pessoas por trás da implantação da metodologia apaqueana no município de Lagoa da Prata. Não medindo esforços, movimentou todos os membros da sociedade capazes de realizar essa grande obra.

Em dezembro de 2005, o município de Lagoa da Prata, por meio do então prefeito, Antônio Divino de Miranda, que empenhou forças e recursos municipais para construção do Centro de Reintegração Social da APAC, doou terreno de 15.000m² na área urbana com essa finalidade.

Terreno de 15.000m² doado pela Prefeitura Municipal para construção do Centro de Reintegração Social da APAC.

Em janeiro de 2006, cidadãos do bairro escolhido que estavam resistentes quanto a construção do Centro de Reintegração Social naquela área, fizeram movimentos para que ali não fosse construído um “cadeião”, demonstrando desconhecimento do que se tratava o projeto.

Apesar da resistência popular, alguns movimentos por parte de bairros vizinhos apenas reafirmavam a tão aclamada frase de Mario Ottoboni, idealizador e fundador do Método APAC, de que: “As coisas só têm significado quando nós as conhecemos”. Em maior número eram aqueles que conseguiram ver o potencial da entidade, atribuindo-lhe função de melhor alternativa para o cumprimento de pena digno na comarca, contando, para isso, com o apoio da Associação Municipal de Apoio as Vítimas de Violência – AMAVI, que, em maio de 2006, lançou um projeto que adotava crianças do bairro onde seria construída a APAC, passando a desenvolver trabalhos de suporte escolar e de práticas de cidadania e conscientização naquela comunidade. Foi o fim do preconceito do bairro contra a APAC.

Em junho de 2006, a APAC foi credenciada pelo estado de Minas Gerais, quando recebeu recursos para a construção do Centro de Reintegração Social – CRS, iniciada em 26 fevereiro de 2007, com a ajuda dos presos, pessoas condenadas à prestação de serviços comunitários e voluntários. E, após muito trabalho e participação da comunidade e de autoridades, bem como recursos do estado, da prefeitura e da AMAVI, o prédio foi erguido.

 

Obra da APAC de Lagoa da Prata/MG em andamento, em fevereiro/2007.

Pessoas condenadas à prestação de serviços comunitários e voluntários que construíram o CRS da APAC de Lagoa da Prata/MG.

O juiz Luiz Carlos, o Diretor-geral da FBAC, Valdeci Ferreira, e voluntários visitando a obra.

A partir de 2007, também vieram cursos e seminários. Voluntários e funcionários foram treinados pela FBAC para aplicarem a metodologia, sempre adicionando ao conhecimento, a fé e o amor pela causa.

Curso do Método APAC para voluntários ministrado por Mário Ottoboni em Lagoa da Prata/MG.

Em abril de 2008, no aniversário de 30 anos da comarca, o CRS da APAC de Lagoa da Prata foi inaugurado. Coube à Sra. Ângela, diga-se de passagem uma grande mulher assumir a gestão durante os dois primeiros anos de funcionamento da entidade. Sendo substituída pelo Sr. Francisco José de Miranda, ex-presidente da APAC de Lagoa da Prata, outro grande apóstolo de Cristo nas prisões. Ele narra um pouco da realização advinda da inauguração do CRS:

Trabalhamos com a nossa Pastoral para trazer a APAC para Lagoa da Prata, e em 2008 ela foi inaugurada. Fiquei na presidência da APAC durante oito anos (2010-2018). Era uma das coisas que eu mais gostava de fazer. O Dr. Luiz Carlos se mostrou muito apaqueano e o Dr. Aloysio também, que não tem nem explicações, estavam sempre presentes na APAC, ajudavam o máximo que podiam. Eu entreguei a direção da APAC, porque a idade chegou e fiquei cansado, mas a minha vontade era de continuar. A APAC para mim é uma das coisas que melhorou a minha vida, porque eu tenho prazer e gosto de estar com os recuperandos.

Governador de Minas Gerais, Professor Antônio Anastásia, presidente do Tribunal de Justiça, Desembargador Orlando Carvalho, e o juiz da comarca, Luiz Carlos na cerimônia do aniversário de 30 anos da comarca e inauguração do CRS da APAC de Lagoa da Prata/MG, em abril de 2008.

Em 06 de junho de 2008, chegaram os cinco primeiros recuperandos na APAC e, após três meses, mais 50.

Chegada dos primeiros recuperandos na APAC de Lagoa da Prata/MG, em 2008.

Foram realizadas parcerias que possibilitaram a implantação de padaria, fábrica de blocos, oficinas de rodas e bicicletas, montagem de caixinhas, reforma de paletes e artesanatos, bem como a realização do “Projeto Recuperar: recuperando vidas e natureza”, que promove reflorestamento de áreas desmatadas.

O apoio e a confiança do município e de grandes empresas como Biosev, Embaré, HCM, Braciclo e Indústrias Marcelino tornaram possível o crescimento e desenvolvimento da entidade em Lagoa da Prata.

Atualmente a entidade tem capacidade para 150 recuperandos, sendo 86 no regime fechado, 44 no regime aberto e 20 no aberto, possui unidades produtivas como: montagem de rodas de bicicleta, montagem de maletas de maquiagem, padaria, reforma de paletes, marcenaria e produção de máscaras para o fornecimento a entidades locais.

Foi firmada também uma parceria com o Município de Lagoa da Prata para que os recuperandos trabalhem em limpeza urbana e obras. E outra para a formação profissional, sendo oferecidos os cursos de Eletricista Predial e Instalador Hidráulico Predial pela FIEMG/SENAI.

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