APAC masculina de Pedra Azul/MG

12/08/2012

Fachada da APAC de Pedra Azul/MG

A freira irmã Ideni Bernardes da congregação Nossa Senhora da Ressurreição, congregação esta que ajudava as pessoas através da educação, recebeu a missão de restaurar a pastoral carcerária.

Quando passava na avenida onde situava a cadeia, por sua alta estatura logo era vista pelos presos que conforme relembra: “A cadeia pública era tão precária que ao passar na avenida os presos me gritavam irmã, vem nos visitar”.

Em conversa com o padre Fabrízio Clemente Fonseca sobre a situação, ele a deu a missão de restaurar a pastoral carcerária na paróquia. No ano de 2006 a irmã iniciou um árduo trabalho com a pastoral carcerária e dois anos após muita luta, algumas pessoas se voluntariaram para lhe ajudar.

Irmã Ideni tinha o hábito de ir até a delegacia da cidade para resolver os problemas dos presos, certa vez, o delegado de polícia civil, Jaime, sugeriu a irmã que levasse a APAC para Pedra Azul/MG, mas o que a fez entusiasmar com a APAC foi a revista sobre o Método APAC, entregue pelo juiz de direito da Comarca, Dr. Hélio Valter.

Em maio de 2009 a APAC jurídica foi fundada, evento que aconteceu no salão do Fórum da cidade tendo a Irmã como primeira presidente e uma diretoria constituída.

O juiz de direito da comarca, Dr. Hélio Valter orientou a Irmã a abrir uma conta para a APAC e passou a fazer a destinação de verbas pecuniárias de valores altos para a APAC.

No movimento de fundação o promotor Gilvan assumiu o protagonismo também com anuência do Ministério Público. Participavam ativamente os advogados Dr. Ronaldo e Dr. Douglas; o advogado da prefeitura de Divisa Alegre, Ailton; o cabo e tenente da polícia militar Vivaldo Kretli, bem como todas as pessoas que foram dando nome e credibilidade ao projeto.

A partir de então, começaram a apresentar à comunidade a metodologia apaqueana, além de organizarem um ônibus para visitar a APAC de Itaúna/MG onde ficaram vislumbrados. Neste dia quem os recebeu no regime fechado foi o recuperando José de Jesus, que disse: “Do amor ninguém foge”. Ele falava ainda: “Irmã eu quero ajudar a sra. em Pedra Azul MG” relembra Irmã Ideni.

Quando retornaram conjuntamente ao juiz, decidiram fazer uma audiência pública como apoio do Tribunal de Justiça de Minas Gerais – TJMG, realizada no ginásio poliesportivo onde a sociedade compareceu em peso, tendo pessoas contra e a favor.

O juiz definiu com a Irmã que precisava de uma pessoa como referência para encaminhar tudo e dar andamento aos trabalhos, para que não fosse só ela. Então a Irmã convidou Ari de Jesus para tomar frente das decisões.

Paralelo a isso o Dr. Ronaldo identificou um imóvel pertencente ao município que serviria para a APAC e começou as tratativas com o prefeito para adquirir o terreno enquanto seguiam as tratativas para realização do Seminário do Método APAC no salão da casa paroquial.

Roberto Donizetti e Izilda na época funcionários da FBAC realizaram o Seminário para mais de 100 pessoas. Após a conclusão do Seminário, retomaram a discussão sobre o terreno, porém quando surgiu a notícia que o prefeito iria doar o imóvel reacendeu o movimento de oposição a APAC que veio mais forte que a pequena no início, ocorrendo pressão política por puro interesse financeiro.

Os incentivadores dessa resistência eram donos de imóveis nos arredores do terreno que temiam serem desvalorizados com a construção da APAC. O projeto então foi vetado na câmara dos vereadores.

No dia seguinte o prefeito Ricardo Mendes Pinto fez o contrato de comodato para ceder 50% um imóvel que a princípio seria o mercado municipal, uma obra com cerca de 1800m². Permitindo então, que a APAC de Pedra Azul/MG tivesse um Centro de Reintegração Social – CRS. O acordo era de que se a APAC lograsse êxito, seriam cedidos os outros 50% do imóvel.

O projeto foi elaborado por um engenheiro voluntário constando as orientações feitas pelo Diretor-geral da FBAC, Valdeci Antônio Ferreira em relação a reforma do imóvel.

Então quando saiu o projeto, de pronto iniciaram as obras, usando mão de obra de presos do regime fechado que eram buscados diariamente por Ari numa Kombi que pertencia as Irmãs e quando não era possível a Irmã Adilza os buscava, depois de uma conversa com o juiz contando com a presença e anuência do Ministério Público, esses ficavam em uma cela separada e só tinham contato com os presos que voltavam para dormir.

O juiz, Dr. Hélio Valter foi transferido para outra comarca, mas o novo juiz a assumir a comarca de Pedra Azul continuou apoiando a APAC, dando continuidade à obra até o dinheiro acabar e as obras serem interrompidas.

Paralelamente as obras, Ari estava tentando conseguir convênio com o estado e foi advertido que o convênio provavelmente sairia antes das obras terminarem, o que inviabilizaria a APAC.

Nesse meio tempo, a Irmã foi transferida para Jequitinhonha/MG, no entanto, continuou respondendo pela APAC, deixando Soraia uma colega da faculdade de direito na articulação das parcerias juntamente com Ari.

Preocupado com a situação, tendo em vista que a maioria das pessoas que fizeram parte da APAC haviam se afastado, o juiz da comarca decidiu convocar uma reunião, decidindo que, conseguindo o material os presos voltariam a ajudar na obra.

Contando com 5 (cinco) presos e com os escassos recursos conseguidos, era necessário iniciar as atividades da APAC, então focaram no regime fechado, construindo sua estrutura por ordem de prioridade, cela, banheiros, pisos, gastando o dinheiro de forma inteligente.

O juiz autorizou que fossem pagos 2 (dois) presos do semiaberto que já trabalhavam anteriormente na obra da APAC para continuar trabalhando com esses do regime fechado. Ainda sem paredes pintadas, o convênio saiu.

Foram enviados para fazer estágio na APAC de Itaúna/MG dois dos presos que trabalharam na construção da APAC Pedra Azul/MG. Quando retornaram foram levando mais 2 (dois) recuperandos da APAC de Itaúna/MG e começaram a receber os primeiros presos do presídio pois já haviam inclusive contratado funcionários.

A APAC começou a fazer o trabalho de aplicação da metodologia com os presos do regime fechado.  A equipe começou a fazer um trabalho para conseguir dinheiro para continuar a reforma, então dentro da rubrica de manutenção e reparos conseguiram um valor para concluir a reforma da APAC.

A Pastoral Carcerária e a APAC foram instituídas graças a Irmã Ideni, que lutou muito para esse feito na cidade de Pedra Azul/MG, conforme depõe:

Fui instrumento de Deus para a realização das duas fundações: Pastoral Carcerária e APAC masculina, tudo é graça, acredito que por ser uma pecadora tentando estar a serviço do Senhor, e sabendo que ele não escolhe os capacitados mais capacita os escolhidos fui chamada a este trabalho que hoje me faz sentir uma entre eles recuperando cada dia, cada dia morro cada dia ressuscito.

Eu não quis ficar só com a Pastoral Carcerária como Mário e Franz não quiseram somente pastoral penitenciária, queriam algo que humanizasse o mundo do cárcere e por isso fui labutar com fé, esperança e amor junto com a comunidade povo de Deus, por algo que nos fizesse avançar para águas mais profundas do homem.  É isso, a APAC uma luz no fundo do túnel para o condenado que quer mudar de vida. “Todo homem é maior que seu erro”. “Aqui entra o homem o delito fica lá fora.

Conforme acordo firmado se a APAC lograsse êxito, o restante do imóvel, ou seja, os outros 50% seriam repassados à APAC e assim foi feito. No ano de 2020 a APAC continuou com sua obra de ampliação, sendo o trabalho desempenhado por recuperandos da APAC e os recursos provenientes de doações e parcerias.

Aos recuperandos são ofertados cursos profissionalizantes como o curso de eletricista industrial ministrado pela Escola Móvel do SESI/SENAI, fruto de uma articulação do Programa Regresso, iniciativa do Minas Pela Paz para a promoção de qualificação profissional e geração de renda aos recuperandos e às APACs, ensinando conceitos e técnicas do ofício.

Formatura do curso de eletricista industrial ministrado pela Escola Móvel do SESI/SENAI

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